Há algum tempo o algodão vem roubando a cena quando o assunto é moda. Em 2016, uma das primeiras bandeiras do Movimento Sou de Algodão era apresentar os benefícios da fibra natural, especialmente nos dias de calor, já que ele garante maior conforto térmico, evita alergias e ainda é mais durável e, consequentemente, mais sustentável, por natureza.
Em 2022, o mesmo movimento, já mais maduro, emplacou, pela primeira vez, um desfile com peças confeccionadas com algodão sustentável e tomou conta das passarelas do São Paulo Fashion Week.
Mas o que é algodão orgânico?
O algodão orgânico é obtido por meio de um tipo de plantação e manejo de solo onde se respeita a natureza. Na sua produção, não podem ser utilizadas sementes transgênicas nem produtos nocivos. É a partir do equilíbrio biológico do solo que se obtém o controle de pragas e uma produção com melhor rendimento.
É assim que a especialista no assunto e criadora da Yannick, marca especializada em tecidos 100% orgânicos, Andreia Yammine, explica sobre a matéria-prima que vem ganhando destaque no mercado da moda nos últimos tempos, alinhado com o movimento cada vez mais forte de promoção da sustentabilidade na indústria têxtil.
E para quem o algodão orgânico é feito?
“Eu vejo o mercado da moda bastante aberto para o algodão orgânico. O consumidor mudou muito. Hoje as pessoas são mais informadas. Criou-se uma consciência maior para o meio ambiente e, por isso, as empresas passaram a correr para atender o consumidor, que hoje é mais exigente. E isso é muito positivo”, reforça Andreia.
Andreia começou a trabalhar com tecidos orgânicos em 2008, quando fez um trabalho com a confecção Yd. “O projeto era a criação marca de roupa própria e 100% orgânica, a Eden Organic. A empresa tinha a cadeia toda verticalizada, desde a produção do algodão, com pequenos agricultores do Paraná - eram no total 63 famílias. Me apaixonei pela proposta e, em 2019, decidi me desligar da empresa e focar em uma empresa 100% orgânica”, conta.
Hoje, a Yannick conta com a primeira produção de algodão orgânico no interior de São Paulo. “Trabalhamos com dois pequenos produtores certificados.Também temos uma parceria com a CATi, que disponibiliza um agrônomo, que trabalha a 18 anos com agricultura orgânica, para auxiliar os agricultores”, relata.
Vantagens, obstáculos e desafios do algodão orgânico
A seguir, você confere uma entrevista exclusiva com a Andreia para a Future Print e fica por dentro das principais novidades e tendências do algodão orgânico:
1. Por que o algodão orgânico pode ser considerado mais sustentável que o convencional?
A diferença entre o algodão orgânico e o convencional começa na semente. No orgânico, são utilizadas somente sementes crioulas (naturais), sendo proibido o uso de sementes transgênicas (modificadas em laboratório). Depois, tem todo o manejo de solo: para a produção do algodão orgânico, não é permitida a utilização de produtos nocivos a terra, aos animais, as plantas e ao ar. Isso dificulta um pouco o cultivo, claro, deixando ele dependente dos manejos manuais e tornando-o um pouco mais caro do que o convencional.
2. Quais são as vantagens da produção de peças com algodão orgânico?
A qualidade dos produtos com algodão orgânico é infinitamente melhor. Isso porque a colheita do algodão é manual, o que preserva a fibra mais madura. Mas os fabricantes que usam algodão orgânico também conseguem agregar um valor maior às suas peças, e não apenas pela qualidade superior do produto, mas também pela história que ele passa a ter por trás. Hoje os produtores de algodão orgânico no Brasil são grupos de pequenos produtores, trabalhando com o orgânico você ajuda a desenvolver não só as famílias envolvidas no projeto, mas todas as regiões ao redor deles. E isso é muito legal.
3. Quais os principais obstáculos ainda presentes na indústria da moda em relação ao uso de materiais mais sustentáveis como o algodão orgânico?
No caso do orgânico acredito que os grandes obstáculos são a pouca oferta de matéria prima e os preços elevados. Mas a moda evoluiu bastante, e vem evoluindo mais a cada coleção, no quesito sustentabilidade. Hoje, temos muitos tecidos reciclados no mercado, tecnologias na parte de lavanderia, produtos sustentáveis. Eles ainda são mais caros que os convencionais, mas já trazem muito diferencial para os fabricantes que os escolhem.
4. Quais desafios ainda precisam ser superados para que a indústria têxtil torne-se mais sustentável?
Costumo dizer que hoje vivemos a 4a revolução industrial. Antigamente a empresa precisava entregar um bom produto com um bom preço e no prazo. Hoje, a maneira de gerir mudou muito. Com a mudança do consumidor, as empresas estão precisando se adaptar e a principal mudança para as empresas é cultural. Acho que essa é a mais difícil. Tem muita empresa que coloca a sustentabilidade “junto” com o marketing. E, na verdade, a sustentabilidade engloba praticamente todos os departamentos, desde o financeiro até produto final. Por isso, acho que o principal desafio hoje é criar de verdade a cultura do sustentável dentro das empresas. Os empresários do setor precisam achar a melhor metodologia para a sua empresa, que alinhe todos os departamentos.
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